Apesar do primeiro caso de contaminação pelo COVID-19 ter sido confirmado em 26.02.2020, foi na segunda semana de Março/20 que o Brasil, a partir do aumento do número de casos, primeiras mortes confirmadas e acompanhamento da grave situação de países europeus, percebeu a gravidade da situação e resolveu tomar as primeiras medidas.

Apesar de ser possível estimar a evolução da pandemia, a partir da curva apresentada por países anteriormente infectados, a verdade é que o cenário é de incerteza sobre o futuro, e isso tem gerado temor e até um sentimento de pânico, em alguns casos, na população.

O prognostico oficial, que tem sido repetido pelo Ministro da Saúde e governantes locais, é de que o “pico” de contaminação ocorrerá no final de Abril/20 e, conservadoramente, até Agosto/20 a situação estará, de certa forma, resolvida.

Entretanto, o que tem preocupado os empresários e empregados, em aqueles que possuem relação com pequenas e médias empresas (PME), é a grande diferença existente entre a data estimada para o “pico”, em Abril/20, que já está de certa forma precificado, e a suposta situação normalizada em Agosto/20. São quatro meses!

Infelizmente quase nenhuma PME possui capital de giro suficiente para sustentar suas atividades, mesmo que em um ritmo desacelerado, por tanto tempo. Despesas Fixas como Folha de Pagamento, Utilities, Aluguel, etc., continuam existindo, mesmo que uma fábrica opere apenas em um turno ou que um restaurante funcione através de entregas Delivery. Segundo estudo do JP Morgan, publicado recentemente, PME de segmentos como Bares & Restaurantes, Varejo e Serviços de Manutenção possuem disponibilidade para sustentar suas atividades por apenas 20 dias, caso o fluxo de recebimentos seja integralmente interrompido.

O Empresário Prudente, que consegue manter a calma mesmo em momentos críticos como o atual, tem investido muito tempo e energia nos últimos dias para conversar com clientes, fornecedores, instituições financeiras e, em especial, seus funcionários. Está utilizando este período para simular diferentes cenários, utilizando a ferramenta do Fluxo de Caixa, para fazer uma boa avaliação de risco antes de tomar qualquer decisão, principalmente aquelas mais duras.

Como diria o proverbio chinês “espere o melhor, prepara-se para o pior e aproveite o que vier”. É assim, preparando-se para o pior, que o Empresário Prudente deve ter a capacidade de elaborar diferentes cenários do Fluxo de Caixa onde, dependendo de cada setor, ocorra, por exemplo, um aumento abrupto da inadimplência, o que tende a ocorrer uma vez que situação é crítica não apenas para sua empresa, mas também para todos os stakeholders envolvidos. Ou uma eventual redução da Receita, não apenas relacionada às ausências de novas vendas como também cancelamentos de vendas já ocorridas. Enfim, através do Fluxo de Caixa, ele conseguirá avaliar os principais impactos, e, consequentemente, qual será a exposição de caixa que a empresa terá, por exemplo, até Agosto/20.

A partir dos cenários definidos no Fluxo de Caixa, o Empresário Prudente poderá, durante este período, buscar alterativas para conter ou eliminar a eventual exposição de caixa, através de iniciativas como reunir com seus principais credores, no intuito de verificar alternativas de postergação de pagamento ou captação de novos recursos, diferir o pagamento de gastos não essenciais, como novas contratações e tributos, suspender qualquer investimento em expansão de capacidade produtiva, marketing ou outras iniciativas que por ventura estavam planejadas, etc.

Este Empresário fará revisões periódicas nos cenários do Fluxo de Caixa, à medida que novos fatos relacionados a pandemia do COVID-19 forem sendo divulgados e, principalmente, a performance de sua empresa for indicando qual dos cenários previstos tende a ser o realista. Como este é um momento de extrema incerteza, onde não se sabe por quanto tempo o período de Quarentena vai durar, não é recomendável que o Empresário tome todas as decisões de uma vez, em especial aquelas que podem prejudicar muito o desempenho de sua empresa pós crise, como por exemplo a rescisão do contratos de fornecedores essenciais, demissão de profissionais, etc. O Empresário Prudente consegue manter a calma e executar as medidas de contingência, já predefinidas nos cenários de Fluxo de Caixa, a medida que tiver confirmações de que elas serão mesmas necessárias. Ele não é lento na tomada de decisão, mas sabe se adaptar aos diferentes cenários a medida que for necessário, e não de forma abrupta.

Em períodos de instabilidade econômica, especialmente os mais severos como o atual, onde impera a incerteza, o Empresário Prudente sabe que cash is king, e que a melhor forma de ter um maior controle sobre o caixa, é através da ferramenta do Fluxo de Caixa.

ps: Conforme explicado no artigo ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO EM PERÍODOS DE INSTABILIDADE ECONÔMICA, várias medidas têm sido anunciadas pelo Governo, Banco Central e Instituições Financeiras para possibilitar que algumas iniciativas mencionadas neste artigo tornem-se viáveis e deem fôlego ao caixa das PME.

ARTIGO ESCRITO POR RICARDO SILVA – SÓCIO DA FC PARTNERS

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