Talvez o momento nunca tenha sido tão oportuno quanto esse, diante da pandemia do COVID-19, para discutir sobre a importância da Gestão dos Recursos Líquidos (Caixa) de uma Empresa.

Para as Companhias com alto nível de Gestão e Governança Corporativa, a gestão do Caixa fica sob a responsabilidade do departamento de Tesouraria, porém, como no Brasil a maior parte dos negócios são representados pelas Micro e Pequenas Empresas (PME), sobretudo com administração familiar e baixa maturidade de gestão, é pouco provável que estas Empresas possuam alguma área exclusiva para essa finalidade.

Fonte: IBGE

Tendo em vista, portanto, que essa gestão é realizada principalmente pelos Empreendedores, é importante que esses saibam distinguir a Pessoa Jurídica (Empresa) da Pessoa Física (Sócio). Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 22% dos Micro e Pequenos Empreendedores fazem gestão conjunta do Caixa da Empresa com as finanças pessoais, sendo que essa confusão vira um problema ainda maior quando a economia entra em declínio, como a atual.

Assim como já explorado no artigo A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DO FLUXO DE CAIXA, é apropriado que os Empreendedores acompanhem de maneira pragmática as Entradas e Saídas dos recursos de curto prazo, assim como também desenvolvam projeções do Fluxo de Caixa, com cenários de estresse, buscando previsibilidade. Ocorre que, na maioria dos casos, toda vez que as Empresas apresentam uma geração de Caixa acima do esperado, o valor é distribuído no momento seguinte sem qualquer planejamento adequado. Também é comum ver elas recorrerem as linhas de financiamentos com altas taxas de juros para sanar obrigações de curto prazo pela má gestão do Caixa.

O artigo QUEIMA DE CAIXA E SUA RELEVÂNCIA NOS PEQUENOS NEGÓCIOS apresenta de forma clara como funcionam os ciclos de fluxo de caixa de diversos negócios, do setor alimentício ao de TI. Em média, as Empresas possuem 27 dias de caixa para honrar com as obrigações sem que qualquer receita ocorra. Assim, caso operem sempre no limite destes 27 dias, sem qualquer gestão do Caixa, qualquer desvio do Orçamento (seja da Receita ou Custo) pode significar a falência do negócio.

A gestão dos Recursos Líquidos possui diferentes objetivos, tendo como ponto focal a alocação de maneira eficiente dos recursos, obtendo melhores resultados, gerando lucros operacionais e aumentando o patrimônio.

Essa gestão pode ser dividida em três pilares:

1 ) Financiamento: Buscar por alternativas de financiamento é comum a todos os negócios, principalmente em momentos de expansão ou de crise. A tomada de crédito muitas vezes é a única alternativa para ajudar negócios no seu crescimento, seja para a aquisição de novos insumos, equipamentos ou até mesmo na manutenção do Capital de Giro.

Várias Instituições Financeiras, principalmente os Bancos de Desenvolvimento (BNDES, BDMG, Desenvolve SP, etc.), disponibilizam linhas específicas no seu hall de produtos, com taxas e prazos mais atrativas às comuns de mercado. Exemplos: Construção Civil, TI, Agro e Saúde, são setores com linhas específicas.

2) Aplicação do Saldo de Caixa: Empresas são criadas para gerar Lucro, rentabilizar o capital alocado, e retornar aos Empreendedores em forma de Distribuição de Lucros. Entretanto, não é possível admitir que todo recurso adicional gerado pela Empresa se trata de uma possível remuneração.

Destinar parte dos Recursos Líquidos (caixa) para uma aplicação financeira pode ajudar a Empresa em momentos de Crise, como a atual. Portanto, é recomendável que o Empreendedor tenha moderação ao Distribuir seus Lucros, tendo o suficiente para suportar alguns desvios no Orçamento, e não ter que recorrer à financiamentos de curto prazo com elevadas taxas de juros.

Nesse ponto, cabe ao Empreendedor entender exatamente como se comporta o Fluxo de Caixa da Empresa, aplicando o recurso em produtos com a liquidez adequada. Caso seja necessário recursos de curto prazo, o Empreendedor precisará investir em uma alternativa com rendimento inferior, mas que oferece a possibilidade de resgate imediato. Nesse tocante, o Planejamento Estratégico deve servir de guia para saber em quais produtos aplicar.

3) Proteção de Risco: Não há como antever todas as ameaças inerentes ao negócio. Existem fatores endógenos que podem ser mitigados seguindo um bom Planejamento Estratégico, e exógenos que podem ser evitados, porém sua ocorrência não é prevista.

Empresas estão expostas a diversos riscos como crédito, mercado, cambial etc. Porém, uma Crise Pandêmica, como a atual, é tratada como um Cisne Negro (evento imprevisível que está além do normalmente esperado de uma situação e tem consequências potencialmente graves). Nesses momentos, de baixa liquidez de mercado, e baixa demanda/consumo, o Empreendedor precisa ter a agilidade para proteger o seu negócio, para que não alcance um ponto sem retorno, como a falência.

Em momentos de Crise como este, até os Empreendedores mais conservadores, devem estar abertos à captação de recursos com terceiros. Diversas linhas estão sendo disponibilizadas pelos Bancos Públicos e Privados neste momento, com taxas e prazos extremamente atrativos. A disponibilidade deste recurso, mesmo que com uso ainda incerto, poderá ser a diferença entre a estagnação e o rápido crescimento passado o período de instabilidade.

 

ARTIGO ESCRITO POR HENRIQUE PORTO – SÓCIO DA FC PARTNERS

Acesse o nosso site: http://www.fcpartners.com.br