Entre Dezembro de 2019 e Janeiro de 2020, a economia mundial foi surpreendida com a pandemia do COVID-19, popularmente conhecido por Coronavírus. A velocidade de disseminação do vírus, com origem na província de Wuhan – China, para os demais países, deixou a população mundial em pânico.

Esse sentimento de pânico, pode ser dividido em dois tipos: preocupação excessiva em relação saúde e, o segundo tipo, em relação ao rumo da economia, seja do próprio país (macroeconomia), ou dos pequenos e grandes negócios (microeconomia).

Vários destes empresários, sobretudo de empresas de grande porte, estão preocupados com o futuro de seus negócios e consequentemente perdas de margens e lucros. Em contrapartida, a base da economia de qualquer país, representada pelos pequenos e médios negócios, preocupam-se com a própria sobrevivência.

Sabe-se até esse ponto que, como medida emergencial de contenção da proliferação do vírus, a maioria dos países decretaram período de quarentena, afetando muitas empresas. Como consequência, esses empresários precisam lidar corretamente com o manuseio do Fluxo de Caixa de sua respectiva empresa, para, em momentos adversos como este, terem Reserva Caixa e Liquidez para suportar as obrigações de Curto e Médio Prazo, conforme explorado no Artigo FLUXO DE CAIXA COMO FERRAMENTA DE DECISÃO PARA AS INCERTEZAS DO COVID-19

Para entender melhor os ciclos de Fluxo de Caixa e como ele afeta as pequenas empresas, especialmente em momentos de adversidade econômica, o JPMorgan realizou um estudo para explorar a vida financeira destas pequenas empresas nos EUA. Foram utilizadas 470 milhões de transações realizadas por 597 mil pequenas empresas em um período de nove meses. O resultado encontrado nesta pesquisa, para preocupação da classe dos pequenos empresários, foi de que metade dessas empresas possuem Reserva de Caixa suficiente para suportar 27 dias de operação sem nenhuma receita adicional.

Em 25% das empresas analisadas, a média de Reserva de Caixa é igual ou inferior a 13 dias. Os setores com menor média são os Restaurantes (16 dias), Manutenção (18 dias), e Varejo (19 dias). Em contrapartida, o Setor Imobiliário mantém uma média de 47 dias.

O restaurante, dentre os vários negócios analisados, é aquele com a maior média de Entrada e Saída de Caixa, o que mostra a fragilidade do setor quando a Receita Recorrente é negativamente afetada.

Fonte: JP Morgan

Empresas que operam no limite da Reserva de Caixa, tendem a ter dificuldade em manter suas operações, em momentos de Crise como a atual. Para conseguirem sair da Crise, precisam de uma gestão agressiva focada em Cortar Custos e, se possível, Captar Recursos.

Como hoje estamos chegando no 20º dia, desde o início da Pandemia e lockdown no Brasil, é provável que vários empreendedores já estejam passando por dificuldades em manter seus negócios “operando”. Alguns, provavelmente, já iniciaram as férias compulsórias, a captação de recursos ou até mesmo demissões. Esse efeito dominó perverso faz com que todos sejam afetados de alguma forma.

Nos EUA, por exemplo, mais de 3,3 milhões de pessoas já entraram com pedido de seguro-desemprego no mês de março, superando as estatísticas anteriores nos relatórios do Departamento do Trabalho, publicados desde 1967. As projeções dos economistas apontam para um total de 4,4 milhões de desempregados em detrimento desta Crise atual.

No Brasil, estamos nos aproximando do 5º (quinto) dia útil, dia em que são pagos os salários aos empregados. Sabe-se, até o momento, que várias empresas estão conseguindo manter suas obrigações em dia, mantendo o quando de funcionários ainda inalterado. Entretanto, é possível que essa data mude todo o cenário da base de pessoas empregadas no Brasil.

Em momentos de crise mundial e paralização econômica por tempo indeterminado, são as pequenas empresas que mais sofrem, por possuírem menor acesso à crédito e muitas das vezes pela falta da gestão adequada do Fluxo de Caixa. Com isso, muitas empresas saem de cena, entrando com pedidos de Recuperação Judicial ou Falência.

Exemplo Prático de um Restaurante em Belo Horizonte:

Um empreendedor possui um restaurante muito conhecido na cidade onde mora, na qual emprega 50 funcionários, com uma clientela fiel e bem rentável.

Por conta do lockdown, este restaurante está de portas fechadas sem conseguir faturar um único pedido. Além disso, levando em consideração a dinâmica do setor, é sensato dizer que este empreendedor possui aproximadamente 15 dias de Reserva de Caixa (valor próximo à média nacional para o segmento de Restaurantes).

Nesse momento, é necessário que esse empreendedor tenha caixa o suficiente para honrar com as suas obrigações, incluindo despesas fixas como aluguel e funcionários que, por cultura do segmento, muita das vezes recebe os “10%” adiantados

Tendo em vista a Reserva de Caixa deste restaurante, é razoável dizer que esse empreendedor não terá recursos para honrar com todos seus compromissos após duas semanas de Quarentena, em especial a Folha de Pagamento, impactando diretamente a vida de seus funcionários.

Estes funcionários além de não estarem recebendo o salário (fixo ou variável), também correm risco de demissão, pela falta de capacidade financeira do restaurante. Ainda, é provável que este empreendedor não tenha condições de pagar todos encargos e verbas rescisórias devidas.

Este funcionário, que sempre gostou de seu patrão e de trabalhar no restaurante, somente receberá o que lhe é direito daqui alguns meses, através da Justiça, e se, somente se, seu patrão conseguir recuperar o negócio ou tiver patrimônio pessoal para fazer frente a este compromisso.

Esse exemplo prático é similar ao que milhões de empresas, e consequentemente seus empregados, estão vivenciando durante as últimas semanas. É uma situação crítica, muito séria, e que dificilmente será resolvida sem muito diálogo e bom senso dos empresários e Governantes.

Tirando a parte gerenciável por cada empreendedor, cabe aos Governos Estaduais e Federal tomarem medidas paliativas para a sobrevivência das PME’s, garantindo assim empregos para a população e consequentemente mantendo níveis de criminalidade e desemprego controlados.

Algumas medidas fiscais, regulatórias e tributárias estão sendo adotadas para aliviar os efeitos da atual crise, conforme exposto no Artigo ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO EM PERÍODOS DE INSTABILIDADE ECONÔMICA.

Observa-se que todas as empresas sentem a desaceleração econômica, entretanto, empresas de pequeno e médio porte, principalmente em setores de Alimentação, Varejo, Reparo e Manutenção, sofrem ainda mais por não terem Reservas de Caixa suficientes.

 

ARTIGO ESCRITO POR VICTOR CALHEIROS – ASSOCIADO DA FC PARTNERS

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